terça-feira, 20 de março de 2012

A GUERRA CONTRA AS TAXAS ESTÁ APENAS NO COMEÇO



Nos últimos cinco anos, a taxa de administração média cobrada dos cotistas de fundos de investimento caiu de 1,65% para 1,29% ao ano. Não chega a ser muito, em especial levando-se em conta que, nesse meio tempo, a taxa de juros Selic caiu de 13% ao ano para os atuais 9,75%. A questão está se tornando cada vez mais importante para os investidores, em especial agora que o Banco Central acena com taxas de juros próximas de 9% ao ano, talvez ainda neste semestre.
            O principal problema da taxa de administração é que ela incide sobre todo o patrimônio depositado no fundo, e não sobre o rendimento. Com isso, o impacto sobre o resultado final pode ser grande. “Muita gente não sabe disso e não dá muita importância a essa cobrança”, diz o economista Humberto Veiga.     Veiga dá um exemplo de um investimento de R$ 1 mil em uma aplicação que pague 9% de juros brutos ao ano – fundos referenciados DI devem dar pouco mais que isso. Em um ano, o patrimônio total do investidor será de R$ 1.090. “Com uma taxa de administração de 2%, o investidor teria de ‘devolver’ ao banco R$ 21,80, valor que equivale a quase um quarto dos ganhos obtidos com a aplicação”, explica o economista. Assim, restaria ao investidor um rendimento de R$ 68,20, que ainda estaria sujeito à tributação do Imposto de Renda.
            A taxa de 1,29% ao ano – que consta do último relatório sobre taxas de administração feito pela Associação Nacional das Entidades do Mercado de Capitais (Anbima), com dados de janeiro – é uma média. Em geral, quanto menor o valor do depósito inicial em um fundo de investimentos, maior é a taxa. Quem investe em fundos com tíquete de entrada de até R$ 1 mil paga os valores mais altos: 3,45% ao ano, em média. Para esses, o investimento em fundos já é um mau negócio: descontando-se a taxa de administração e o Imposto de Renda (que pode ser de 27,5% sobre o lucro, no caso de aplicações com prazo inferior a seis meses), a poupança dá rendimento maior.
            Tome-se o caso do Hiperfundo, do Bradesco, um fundo DI que cobra 4,5% ao ano em taxa de administração e oferece ao cliente a chance de concorrer a sorteios. Na simulação com R$ 1 mil de investimento, a taxa de administração “comeria” R$ 49,05 – mais da metade do ganho do investidor.

O que fazer?

A questão já chegou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão do governo encarregado de regulamentar e fiscalizar o mercado de capitais. Em um seminário realizado na semana passada, a comissão avaliou questões regulatórias ligadas ao mercado de fundos, entre elas o problema da taxa de administração.
            A presidente da CVM, Maria Helena Santana, admitiu a preocupação com o tema. “Os fundos mais simples estarão sob pressão se comparados à rentabilidade da poupança. Não sabemos ainda o que fazer [para mudar isso], nem se será de uma hora para outra”, disse.

Liquidez diária é obstáculo, diz CVM

O cenário de juros mais baixos no país aumenta a pressão para que os gestores de fundos de investimento diversifiquem suas carteiras em direção a ativos menos líquidos, como dívida corporativa, papéis de securitização e algumas ações, e de mais alto risco, a fim de garantir maior rentabilidade.
            O principal obstáculo a esse desafio será a expectativa arraigada de liquidez diária do investidor brasileiro, diz a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana. “A maior pressão será o mercado ter de desenvolver em escala maior a especialização na gestão em ativos mais arriscados, não dependentes da taxa de juros”, disse.
            Na avaliação da “xerife” do mercado de capitais, no entanto, essa é uma questão que não cabe ser resolvida pela via regulatória. “Seria importante convencer o investidor de que isso [o resgate diário] representa um custo. Que ele pode estar abrindo mão de rentabilidade por exigir liquidez diária”, afirmou.
            Antes da crise de 2008 a CVM identificava um movimento de gestores independentes impondo aos investidores institucionais períodos de carência maior, de 30 a 60 dias, para o resgate dos fundos. O pânico gerado pela crise financeira, no entanto, abortou esse movimento.

Fonte: Gazeta do Povo

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