Nos últimos cinco anos, a taxa de administração
média cobrada dos cotistas de fundos de investimento caiu de 1,65% para 1,29%
ao ano. Não chega a ser muito, em especial levando-se em conta que, nesse meio
tempo, a taxa de juros Selic caiu de 13% ao ano para os atuais 9,75%. A questão
está se tornando cada vez mais importante para os investidores, em especial
agora que o Banco Central acena com taxas de juros próximas de 9% ao ano,
talvez ainda neste semestre.
O principal
problema da taxa de administração é que ela incide sobre todo o patrimônio
depositado no fundo, e não sobre o rendimento. Com isso, o impacto sobre o
resultado final pode ser grande. “Muita gente não sabe disso e não dá muita
importância a essa cobrança”, diz o economista Humberto Veiga. Veiga dá um exemplo de um investimento de R$
1 mil em uma aplicação que pague 9% de juros brutos ao ano – fundos
referenciados DI devem dar pouco mais que isso. Em um ano, o patrimônio total
do investidor será de R$ 1.090. “Com uma taxa de administração de 2%, o
investidor teria de ‘devolver’ ao banco R$ 21,80, valor que equivale a quase um
quarto dos ganhos obtidos com a aplicação”, explica o economista. Assim,
restaria ao investidor um rendimento de R$ 68,20, que ainda estaria sujeito à
tributação do Imposto de Renda.
A taxa de 1,29% ao
ano – que consta do último relatório sobre taxas de administração feito pela
Associação Nacional das Entidades do Mercado de Capitais (Anbima), com dados de
janeiro – é uma média. Em geral, quanto menor o valor do depósito inicial em um
fundo de investimentos, maior é a taxa. Quem investe em fundos com tíquete de
entrada de até R$ 1 mil paga os valores mais altos: 3,45% ao ano, em média.
Para esses, o investimento em fundos já é um mau negócio: descontando-se a taxa
de administração e o Imposto de Renda (que pode ser de 27,5% sobre o lucro, no
caso de aplicações com prazo inferior a seis meses), a poupança dá rendimento
maior.
Tome-se o caso do
Hiperfundo, do Bradesco, um fundo DI que cobra 4,5% ao ano em taxa de
administração e oferece ao cliente a chance de concorrer a sorteios. Na
simulação com R$ 1 mil de investimento, a taxa de administração “comeria” R$
49,05 – mais da metade do ganho do investidor.
O que fazer?
A questão já chegou à Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), órgão do governo encarregado de regulamentar e
fiscalizar o mercado de capitais. Em um seminário realizado na semana passada,
a comissão avaliou questões regulatórias ligadas ao mercado de fundos, entre
elas o problema da taxa de administração.
A presidente da
CVM, Maria Helena Santana, admitiu a preocupação com o tema. “Os fundos mais
simples estarão sob pressão se comparados à rentabilidade da poupança. Não
sabemos ainda o que fazer [para mudar isso], nem se será de uma hora para
outra”, disse.
Liquidez diária é obstáculo, diz CVM
O cenário de juros mais baixos no país
aumenta a pressão para que os gestores de fundos de investimento diversifiquem
suas carteiras em direção a ativos menos líquidos, como dívida corporativa,
papéis de securitização e algumas ações, e de mais alto risco, a fim de
garantir maior rentabilidade.
O principal
obstáculo a esse desafio será a expectativa arraigada de liquidez diária do
investidor brasileiro, diz a presidente da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), Maria Helena Santana. “A maior pressão será o mercado ter de desenvolver
em escala maior a especialização na gestão em ativos mais arriscados, não
dependentes da taxa de juros”, disse.
Na avaliação da
“xerife” do mercado de capitais, no entanto, essa é uma questão que não cabe
ser resolvida pela via regulatória. “Seria importante convencer o investidor de
que isso [o resgate diário] representa um custo. Que ele pode estar abrindo mão
de rentabilidade por exigir liquidez diária”, afirmou.
Antes da crise de
2008 a CVM identificava um movimento de gestores independentes impondo aos
investidores institucionais períodos de carência maior, de 30 a 60 dias, para o
resgate dos fundos. O pânico gerado pela crise financeira, no entanto, abortou
esse movimento.
Fonte: Gazeta do Povo
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