segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um empreendedorismo diferente

O empreendedorismo não precisa estar associado com a criação de algo novo e inovador. O empreendedorismo pode ser simplesmente fazer algo que já existe, melhor e/ou diferente
Hoje em dia confunde-se com alguma facilidade a idéia de empreendedor com a de inventor.

Para muitos, um empreendedor é alguém que, munido de uma idéia revolucionária, monta um negócio que o levará a uma vida de fama e fortuna. Não há, a meu ver, uma concepção mais errada da ideia. Basta olhar para a última década para constatar que (com alguma sorte) contamos pelos dedos das duas mãos as startups que realmente mudaram o mundo (de entre milhões de empresas que todos os anos são criadas pelo mundo fora) e que, estatisticamente, a larga maioria das empresas que foram criadas, falharam. 

O empreendedorismo não precisa de estar associado com a criação de algo novo e inovador. O empreendedorismo pode ser simplesmente fazer algo que já existe, melhor e/ou diferente. 

Estamos numa fase da história do nosso país em que esta faceta do empreendedorismo se torna especialmente relevante. Temos um país em que a indústria, por exemplo, está a viver tempos muito difíceis, em que o ritmo da evolução científica e tecnológica aliada ao aumento da concorrência internacional, transforma empresas em obsoletas todos os dias. Para muitas empresas, a gestão atual, antiquada, tradicional, e pouco habituada a atuar num mercado global, não tem capacidade de se adaptar a este contexto evolutivo, sendo necessário sangue novo, com horizontes mais alargados, novas idéias e maior determinação. É aqui que podem e devem entrar os nossos empreendedores. 

Isto é uma faceta do empreendedorismo que, embora menos gloriosa que a criação de raiz de uma startup de sucesso, traz inúmeras vantagens para quem queira seguir um rumo empreendedor. 

Em primeiro lugar, não implica a invenção de nada verdadeiramente revolucionário. A empresa, a tecnologia e o negócio já existem, sendo obviamente necessária criatividade no ajustamento da organização e do produto/ serviço aos requisitos evolutivos do mercado. Isto permite também minimizar o risco para o empreendedor, já que tem acesso de antemão a informação histórica da empresa e do mercado, aos trabalhadores da empresas e ao funcionamento da própria organização, para avaliar de forma adequada o potencial do negócio. 

Em segundo lugar, permite uma maior especialização no mercado em questão. Os negócios criados de raiz demoram algum tempo a encontrar o "seu" mercado. Na maior parte dos casos, o que o empreendedor idealiza, está longe do que será o resultado final, levando a um processo de tentativa e erro até que seja identificada de forma adequada a necessidade que o empreendedor está a tentar satisfazer, e a respectiva solução. Neste caso é muito mais simples. O mercado já existe bem como a solução, dando azo a que a especialização nesse mesmo mercado ou produto/ serviço possa servir efetivamente como uma vantagem competitiva. 

Em terceiro lugar, nesta fase é muito mais fácil atrair investimento. Para empresas existentes, mesmo que em dificuldades, mas que apresentem potencial de crescimento e de rentabilização futura, há investidores (nacionais e internacionais) com disponibilidade e vontade de as apoiar com investimento e know how.

Finalmente, creio que é uma oportunidade muito real na fase em que vivemos. Basta estarmos atentos aos jornais para constatar a quantidade de empresas e marcas de referência que estão em grandes dificuldades e em muitos casos a iniciar processos de insolvência, por falta de fundos e por incapacidade para responder aos desafios do mercado. Algumas dessas empresas, se forem geridas por uma equipa com uma visão diferente do negócio, uma visão virada para o mercado internacional e desligada emocionalmente da empresa, poderão ainda apresentar muito potencial para todos os seus stakeholders.

Com isto não quero dizer que nos devemos aproveitar das infelicidades dos gestores dessas empresas, antes pelo contrário. Acredito que temos em Portugal uma geração de profissionais muito qualificados e com vontade de empreender, que poderão assumir com sucesso a continuidade de negócios e de empresas que, caso contrário, caminhariam para a insolvência, ajudando a resolver um enorme problema aos atuais gestores, donos, credores e, em muitos casos, aos próprios trabalhadores. 

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